O Governo de Cabo Verde vai reverter a concessão do projeto para um hotel-casino na cidade da Praia, capital do arquipélago, após abandono do grupo Macau Legend Development, e depois procurar outro destino para o investimento, anunciou nesta quinta-feira (5) o primeiro-ministro.
“Primeiro temos que reverter a concessão. Esta é uma concessão de exploração e de investimentos. Havia já algum tempo indicação de que haveria problemas do lado do investidor, a sua capacidade de concluir o projeto”, afirmou Ulisses Correia e Silva, na cidade da Praia.
Numa entrevista à televisão de Hong Kong TVB, transmitida na noite de quarta-feira, o presidente e diretor executivo da Macau Legend Development, Li Chu Kwan, anunciou que o grupo pretende encerrar as operações tanto em Cabo Verde como no Camboja até 2025.
“Agora vamos fazer as partes que têm a ver com todo o suporte jurídico para fazer a concessão e depois ver que destino dar a esse investimento, que não pode ficar assim como está”, completou o chefe do Governo cabo-verdiano, ao ser questionado à margem da abertura do novo ano letivo na Universidade de Cabo Verde (UniCV).
Segundo o primeiro-ministro, o grupo, fundado pelo empresário David Chow, alegou problemas financeiros e de organização acionista para desistir deste que era um dos projetos turísticos aguardados com grande expectativa em Cabo Verde.
Ulisses Correia e Silva disse que o Governo vai agora retomar a ocupação feita em regime de concessão e criar condições para que surjam novos projetos no local.
Em 2015, David Chow assinou com o Governo cabo-verdiano um acordo para a construção do empreendimento no ilhéu de Santa Maria, na Gamboa, tendo sido lançada a primeira pedra do projeto em fevereiro de 2016.
O projeto envolvia o maior empreendimento turístico de Cabo Verde na altura, com um investimento global previsto de 250 milhões de euros – cerca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) cabo-verdiano.
O plano envolvia a construção de uma estância turística com uma área de 152.700 metros quadrados, um hotel com ‘boutique casino’, de 250 quartos, que já foi construído, mas está fechado, uma piscina, várias instalações para restaurantes e bares, além de uma marina, e também foi construída uma ponte para o ilhéu.
A construção do projeto foi contestada na altura por vários quadrantes sociais, sobretudo ambientalistas, entre eles um grupo de 12 cientistas e paleontólogos coordenado pelo Instituto Gulbenkian de Ciência, de Portugal.
Mas também por elementos do movimento cabo-verdiano “Korrenti di Ativista” acamparam no ilhéu de Santa Maria, e pelo ex-bastonário da Ordem dos Arquitetos (OAC) cabo-verdianos, Cipriano Fernandes, que chegou mesmo a pedir a intervenção da Procuradoria-Geral da República (PGR) para suspender o projeto.
Em dezembro, o presidente da Cabo Verde TradeInvest, José Almada Dias, disse à Lusa que a Macau Legend tinha prometido apresentar em breve um plano para retomar as obras, paradas há vários anos.
A empresa recebeu uma licença de 25 anos do Governo de Cabo Verde, 15 dos quais em regime de exclusividade na ilha de Santiago. Esta concessão de jogo custou à CV Entertaiment Co., subsidiária da Macau Legend, o equivalente a cerca de 1,2 milhões de euros.
A Macau Legend recebeu também uma licença especial para explorar, em exclusividade, jogo ‘online’ em todo o país e o mercado de apostas desportivas durante dez anos.
A lei de jogos define cinco zonas permanentes do jogo, nas ilhas de Santiago, São Vicente, Sal, Boa Vista e Maio. Cabo Verde atribuiu até ao momento duas concessões, uma à Macau Legend e outra para a ilha do Sal.
Atualmente, Cabo Verde tem apenas um casino em funcionamento, o Casino Royal, em Santa Maria, no Sal, que abriu portas em dezembro de 2016, após um investimento de quase cinco milhões de euros.
Escrito por: África 21 Digital